RECADOS PARA A VIDA

RECADOS PARA A VIDA
Raymundo Cortizo Perez

Nada foi feito com segunda intenção,

é que ela ao cruzar as pernas mostrou a sua calcinha preta

minúscula e seus lindos pêlos dourados,

dourados como o brilho do sol, cor de mel...

Por discrição, eu fingia que nada vi,

mas ela via que eu fingia, e ria...

A menina sacana ria da minha situação, percebia...

muito maliciosa, suspirava e provocava...

O nosso olhar se cruzou e faiscou o tempo todo,

fez-se cúmplice, réu confesso...

e o desejo inquieto vagou e perambulou

em nossas mais íntimas entranhas

por toda a noite pela fresta da festa.

Nunca mais o nosso olhar foi o mesmo,

tornou-se um enigma, um mistério, 

um querendo desvendar o outro, devorar...

-----

Na feira de rua, na rua Carmo Buissa em Macaubal,

uma senhora fina, pergunta pelo preço das frutas.

Alguém passa e ela cumprimenta com alegria,

boa noite, dona Eleonora!

Na barraca de pastel, um senhor atende uma moça,

e o seu olhar percorria o corpo dela de baixo em cima

de cima em baixo,

o seu olhar parecia querer pedir desculpas,

mas não conseguia esconder o seu desejo e cobiça.

Ela era sensual e sedutora e sabia o que tinha para mostrar

e mostrava, provocava se fazendo de inocente.

Um rapaz todo afoito parou na barraca ao lado da moça,

percebia-se pelos seus gestos toda a sua excitação,

visivelmente exitado, mas pensativo e encabulado

tentava de todos os modos disfarçar o seu olhar,

mas... ora olhava o par de pernas morenas, o quadril,

ora olhava o decote generoso e finamente requintado,

decorado com a bela exuberância daqueles seios.

Na rua o ritual prosseguia com as pessoas indo e vindo,

e todos olhavam discretamente a exuberância do decote

e o par de coxas daquela moça que foi a atenção da feira,

no julgar de todos, para uns a mais bela princesa da noite,
para outros, apenas uma meretriz...

------

É contado lá em Jaboticabal que é lenda,
não é verdade que as freiras confundiram
a morte de um jumento preto,
com a morte do padre Benedito que era preto.
É que um jumento preto morreu e um gaiato qualquer
cortou a estrovenga desproporcional do jumento
e jogou para dentro do pátio do convento.
As freiras revestidas de santidade
 choravam a morte do padre Benedito,
confundindo a estrovenga do Jumento com a do padre.
Desfeito o engano, elas deram Graças a Deus
pela vida do padre Benedito.