A ILHA DE SAFO

 A ILHA DE SAFO

Raymundo Cortizo Perez

Ontem ela foi colorir a alma

pintar poesia

no tempo e na morte

nos muros e paredes

no vazio do tempo

no vazio da morte,

escreveu no tempo

escreveu na morte

o silêncio da solidão

poemas de amor

Ontem ela foi adorar a chuva, o sol, a terra

e ferir a língua com espinhos

aprender os nomes dos caminhos

e lançar as flechas da vida.

Ontem ela passou por corredores

sem fim da memória

com portas vazias de um salão,

onde se pode ver as varandas

as joias da fome ardeu

no rosto desvanecido

de recordações nos gestos que se desfazem

o dia é imortal, ascende, cresce,

acaba de nascer e não acaba

cada dia é nascer, um nascimento

e cada dia que amanhece ela  amanhece.

Não há nada em sua frente,

só um instante, o instante é um abismo

como um punho cerrado

como um fruto maduro que amadurece

dentro de si mesmo

e a si mesmo se farta

o instante translúcido se fecha dentro de si, delírio...

os pensamentos são pássaros,

pássaros delirantes...

dorme o sonhos que não sonha

os anos da sua vida são pedras,

o seu coração está encarcerado.

Lacerou as roupas
dilacerou os sonhos
o doce desejo não está morto
e é o que resta: Ontem
foi descobrir a ilha
e se perdeu na arte depois da festa
e ela amou...

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