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quinta-feira, 4 de junho de 2020

O TEMPO PAROU


O TEMPO PAROU
Raymundo Cortizo Perez


Aqui pararam todos os relógios
Num pacto de dor
Dos oprimidos
Da gente sofrida
Das crianças descalças e de peito nu
Dos redimidos na fome
Dos trabalhadores rotos e sujos
Dos mendigos
O desespero sufocado
Dos homens cultos
Que estas esquinas conheceram.

O tempo aqui parou.

Por estas ruas podem-se ver às noites
Antigos vultos errantes
À cata de seus sonhos sob as pedras
Que viram-nos nascer e os recolheram.

Aqui pararam todos os relógios
Num pacto magoado de silêncio e dor!

Agora, ouve-se apenas os poetas
E loucos plantadores de arrebol
O resto confundiu-se na distância sob o pó.

Aqui pararam todos os relógios.
Aqui calaram todos os relógios.

Agora, sobre bússolas perdidas,
Apenas mãos heroicas mostram
Lanças que apontam vagos norte da memória.

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